sábado, 5 de abril de 2014

Artigo Marina Silva




Há duas semanas, na gravação de um diálogo para o programa partidário, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, sintetizou precisamente a situação da Petrobras: em três anos, disse ele, o valor da empresa caiu pela metade e sua dívida aumentou quatro vezes. Nos dias seguintes, vimos a sequência de escândalos que podem explicar como se chegou a essa situação.
A compra desastrosa de Pasadena (EUA), o superfaturamento nas obras da refinaria Abreu e Lima, a suspeita de que funcionários receberam propinas de uma empresa holandesa, a prisão de um ex-diretor acusado de vários crimes financeiros, tudo isso deixa a sociedade brasileira indignada e temerosa de que seja apenas a famosa “pontinha do iceberg”.
A Petrobras, que é importante para o Brasil, precisa ser saneada com a maior rapidez possível e voltar a ficar saudável. Para isso, devemos ter a responsabilidade de não permitir que seja ainda mais prejudicada pelo embate entre posições extremas, ansiosas por resultados eleitorais: de um lado os que se expõem para ganhar, de outro os que se escondem para não perder.
Foi a política imediatista que gerou essa situação. A visão estratégica foi obscurecida pelo escambo eleitoral.
Troca-se pedaços do Estado por apoio político e espasmódico no Congresso, cuidados socioambientais por dividendos na campanha eleitoral, resolução dos problemas de infraestrutura por marketing. Uma pauta oculta aos olhos da sociedade, que já não se surpreende quando fica sabendo do adiamento ou suspensão das obras para a Copa do Mundo, do corte no orçamento da Educação, da possibilidade de racionamento de água e energia, da interrupção brusca nos transportes e outros serviços essenciais. O Brasil vive um apagão sistêmico, a Petrobras é apenas o exemplo mais ruidoso.
Desde a crise financeira internacional de 2008, quem antevia a conjuntura adversa atual já avisava: acima dos “gerentes”, o Brasil precisa que seus líderes tenham um olhar para o futuro, uma compreensão das novas exigências da civilização, uma agenda estratégica de reformas para adequar o país às mudanças do mundo contemporâneo. Infelizmente, nem o que prometeram foi entregue: ficamos sem estratégia e com uma gerência vocacionada para a falência.
O momento atual, com a crise crônica instalada na economia, no Estado e na sociedade, deve nos fazer pensar na necessidade urgente de um realinhamento político –independente de partidos– de todos os que se orientam pelas causas republicanas. Os que vão investigar os recônditos da Petrobras devem estar imbuídos desse cuidado, semelhante ao que se deve tomar ao retirar petróleo em águas profundas.
Marina Silva escreve às sextas-feiras na Folha de S.Paulo

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